Permanece sem comprovação, a titularidade das terras de Antônio Silva Neném em Bom Jesus do Itabapoana

Com a máxima vênia, o respeitável jornal O Norte Fliminense não está interpretando os documentos e fatos históricos com clareza

Foi publicado neste sábado, dia 30 de dezembro de 2023, no blog do jornal O Norte Fluminense (AQUI), o documento que EM TESE, seria o título de terras, ou a declaração sobre a titularidade das terras de Campo Alegre, que consistia em uma pequena área entre a rodoviária e a praça Governador Portela, em favor de Antônio José da Silva Neném.

O que está apresentado na matéria são as declarações sobre a titularidade de Neném sobre as terras de SANTA LUZIA, na margem capixaba do rio Itabapoana, em Apiacá, entre Santa Isabel e Carabuçu, conforme já informado tanto por Padre Mello, como pelo saudoso desembargador/historiador Antônio Isaías da Costa Abreu, "que depois da morte de Germano da Silva, filho de Neném, ele foi para sua propriedade em Santa Luzia e a vendera a Antônio Gomes Guerra, seguindo posteriormente para Piúma".

Um detalhe histórico talvez não tenha sido observado pelos caríssimos Gino Bastos e Maria Cristina Borges, sobre o fato de que neste período do século XIX, a província do Espírito Santo tinha como marco inicial o rio Benevente, em Anchieta até a divisa com a Bahia, abaixo de Anchieta era a "zona proibida", que era mantida sem exploração para evitar rotas de contrabando de ouro de MG. 

O Vale do Itabapoana era uma só região naquele período, inclusive disputada pelas províncias do ES, MG e RJ (AQUI), por isso que as terras de Santa Luzia, essas pertencentes de fato a Antônio José da Silva Neném, estarem declaradas dentro da jursidição do território de Santo Antônio de Guarulhos, município de Campos dos Goytacazes. 

Podendo também observar essa "neutralidade" do Vale do Itabapoana quando José Dutra Nicácio chegou junto com seu cunhado, o Alferes Francisco da Silva Pinto, e este desbravou São José do Calçado, salientando ainda que a capela e posteriormente paróquia de Guaçuí-ES era subordinada a Diocese de Mariana-MG.

Outro aspecto que reforça a tese de que o Vale do Itabapoana era uma só região, pode ser observado em um blog de São João de Nepomuceno, onde reescreve o noticiário do jornal sãojoanense na década de 1840 (AQUI), e lá se refere a região do Vale do Itabapoana, como "as terras dos Dutras", ou as "matas dos Dutras", pelo fato de termos aqui entre os pioneiros que chegaram junto com o Alferes Silva Pinto, TRÊS irmãos Dutra Nicácio, Antônio que se estabeleceu em Bom Jesus do Querendo, atualmente distrito de Natividade-RJ, Fernando Antônio (cunhado do Alferes Silva Pinto) em Pirapetinga de Bom Jesus, e o Coronel José Dutra Nicácio (cunhado do Alferes Silva Pinto), que desbravou em fundou São José do Calçado-ES (AQUI).

Segundo consta no livro "Itinerário da Freguezia do Senhor Bom Jesus, à gruta das minas do Castelo" (AQUI), Manoel Basílio Furtado detalha em 1873, que o rio Itabapoana fazia a divisa PROVISÓRIA entre as províncias do RJ e ES, o que nos leva a conjecturar que pelo menos até 1870 não havia um marco divisório no Vale do Itabapoana entre essas províncias.

São dois documentos apresentados no blog do jornal O Norte Fluminense, que se mostram de maneira indiscutível se tratar de terras em território capixaba de propriedade de Antônio José da Silva Neném.

O primeiro documento demonstra uma declaração de Antônio Gomes Guerra, sobre a compra de um sítio denominado como Santa Luzia, vendido por Antônio José da Silva Neném, que é a propriedade localizada na região de Apiacá, e adquirida posteriormente por Jader Campos Pinto de Figueiredo, neto do Alferes Francisco da Pinto, nas proximidades de onde se localiza a "Ponte do Jader" ou "Ponte do Waldir". 

Portanto, somente este documento comprova que que suas terras se localizavam na margem capixaba do rio Itabapoana, e na melhor da hipóteses, Antônio José da Silva Neném se estabeleceu provisóriamente no centro de Bom Jesus por engano, pois naquela época não havia mapas ou rotas que dividissem as propriedades, tanto que ele não edificou nada, ficou dois ou três anos acampado em cabanas cobertas com pindoba, uma espécie de palmeira, como narrou Padre Mello, para depois se dirigir para sua propriedade de fato em Santa Luzia, hoje pertencente a Apiacá.

O segundo documento apresentado pelo blog do jornal O Norte Fluminense, é uma declaração de Ângelo Thomas Amaral, que se reporta ao rio Itabapoana como referência de localização, e cita que pelo lado "noroeste" está a propriedade de Francisco das Chagas de Oliveira França, "e pelo..." sem especificar, mas podendo todos nós interpretar como do outro lado, está a propriedade de Antônio José da Silva Neném e a dele, Ângelo Thomas Amaral. Salientando ainda que, Ângelo Thomas Amaral vendeu sua propriedade vizinha de Neném ao capitão José Carlos de Campos onde edificou a Fazenda Fortaleza, cuja sede ficava em Iurú, ou Ponte de José Carlos.

Se a propriedade de Francisco das Chagas de Oliveira França abrangia da rodoviária até o valão do Odilon Diniz, e se extendendo até a Serra do Tardin, por óbvio que as propriedades que estão no outro lado ou em posição oposta a dele, estão na margem capixaba do rio Itabapoana, salientando que naquele tempo, a área compeendida como pertencente a Bom Jesus do Norte, pertencia a José Dutra Nicácio, tanto que até 1963 BJN era distrito de São José do Calçado.

Outro questionamento acerca da matéria veiculada no dileto blog do jornal O Norte Fluminense, está na afirmativa que "Antônio José da Silva Neném foi o primeiro desbravor a pisar em solo bom-jesuense", tratando-se de indiscutível engano, pois o próprio Padre Mello considera que o Tenente Francisco das Chagas de Oliveira França teria chegado aqui antes de Neném, ou no mesmo período, e no mais, o solo bom-jesuense conta hoje com 596 km² de extensão, que vai da Serrinha até no alto-Rosal nos limites com Varre-Sai na comunidade de Santa Rita da Prata, e na primeira metade do século XIX era ainda maior, pois o Alferes Francisco da Silva Pinto detinha terras de Santa Isabel até Varre-Sai.


Quem de fato, foram os primeiros desbravadores a pisarem em solo bom-jesuense, foi o Alferes Francisco da Silva Pinto e seu cunhado, o Guarda-mor Fernando Antônio Dutra em 1822 ou 1825, chegando em Bom Jesus do Itabapoana pelo "Vale do Pirapetinga", hoje Pirapetinga 5º  distrito de Bom Jesus do Itabapoana. VINTE ANOS antes da chegada de Neném, o Alferes já havia pisado em solos pirapetinguense, calheirense, Rosalense, e Barrense. Todos solos bom-jesuenses.

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