Sobre o início do desbravamento, temos uma dúvida, e alguns indícios

São quatro, as principais fontes de pesquisas que alimentaram os documentários sobre a trilogia da história de Bom Jesus do Itabapoana, e desses, três atestam que foi em 1822 que o Alferes Francisco da Silva Pinto chegou no Vale do Itabapoana pelo Vale do Pirapetinga, junto com seu cunhado, o Guarda-mor Fernando Antônio Dutra, e um defende que ele tenha chegado em 1825.


De acordo com a professora e historiadora Maria Aparecida Dutra Viestel, o genealogista e autor do livro "Bom Jesus do Itabapoana", Francisco Camargo, e o dr. Norberto Seródio Boechat, a chegada de Silva Pinto se deu em 1822, há duzentos anos, já o historiador e saudoso desembargador Antônio Isaías da Costa Abreu defende que ele chegara em 1825, primeiro com a mesma versão sobre quem havia chegado com ele, o seu cunhado Fernando Antônio Dutra.  E em outro artigo escrito no mesmo blog do jornal O Norte Fluminense, ele já insere outros irmãos "Dutra Nicácio", Antônio que desbravou Natividade e José que desbravou e fundou São José do Calçado, além de sua esposa Francisca de Paula Figueiredo.

Para não contrariar nenhuma das versões, no documentário "O Alferes", eu conjecturei duas chegadas de Francisco Silva Pinto, inicialmente em 1822 somente com seu cunhado e irmã, com eles se estabelecendo em Pirapetinga e o Alferes levando sua comitiva rumo ao alto Rosal, na região da Serra do Bálsamo, e logo a seguir ele teria retornado para Barbacena-MG, em 1824 ele se mudou para Ouro Preto e neste mesmo ano ele conheceu e se casou com Francisca de Paula Figueiredo, em 1825 eles tiveram o primeiro filho ainda em Ouro Preto, Carlos Pinto de Figueiredo, e no final deste ano eles se mudaram para o Vale do Itabapoana, deixando o filho recém nascido com os avós maternos em Ouro Preto, devido ao fato deles estarem se mudando para uma local inóspito e ainda a ser desbravado, totalmente inviável para uma criança.

Nesta vinda do casal Pinto Figueiredo em 1825, vieram com eles Antônio Dutra Nicácio, que se estabeleveu em Natividade, provavelmente entre as regiões de Bom Jesus do Querendo e Ourânia, e seu irmão José Dutra Nicáco desbravando São José do Calçado, ambos irmãos de Fernando Antônio Dutra que já estava desbravando Pirapetinga desde 1822.

Raciocinando a partir de outra informação do desembargador Antônio Isaísas da Costa Abreu, de que o Alferes Francisco da Silva Pinto teve seu primeiro resultado com o café em 1838, entrei em contato com o querido sobrinho Samir Seródio Amim Rangel, servidor de carreira do INCAPER, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, consultando sobre o tempo que a planta do café levava para produzir no século XIX, desde o plantio da muda até a colheita, e qual era  técnica utilizada para derrubar as árvores gigantes que haviam na densa floresta nativa do Vale do Itabapoana, que por serem na época instituídas como "terras devolutas", ou seja que pertenciam ao governo imperial sem jamais ter sido exploradas, o início do desmatamento se deu em uma floresta milenar, com árvores que levaria dias, ou até mais que uma semana, para serem derrubadas somente no machado, pois era o único recurso existente na época.

Foram consultados o engenheiro agrônomo Ederaldo Fleger, o engenheiro florestal Pedro Carvalho, o coordenador de Café da SEAG-ES Sérgio Có, e o historiador e extensionista rural Antônio Locatelli, e o próprio Samir Rangel, e mediante ao conjunto de informações e conjecturas históricas, fica praticamente confirmado que o início do desmatamento na Fazenda do Bálsamo se deu em 1822,  mediante ao tempo que levaria para desmatar uma área que produza café em considerável escala, sem contar que, historicamente em uma situação dessas em que se desbrava um lugar jamais habitado e sem nenhuma rota comercial, os fazendeiros primeiro utilizam o solo desbravado para o plantio de culturas para subsistência, como arroz, feijão, milho e mandioca, para depois que tiver uma área desmatada grande o suficiente para plantar o café com a finalidade econômica, isso levava mais de dez anos.

Podemos calcular que entre 1822 e 1834 os escravos do Alferes Francisco da Silva Pinto levaram para desmatar e iniciar o plantio das culturas de subsistência, plantando o café a partir de 1833 ou 1834, para se obter o resultado noticiado em 1838, sendo entre quatro e cinco anos o tempo que a planta do café levava para produzir no início do século XIX.

Finalizando, a historiadora Maria Aparecida Dutra Viestel é filha de Antônio Dutra, neta de Pedro Gonçalves da Silva Júnior e trisneta do Alferes Francisco da Silva Pinto, e o dr. Norberto Seródio Boechat, é bisneto de Júlio Boechat, um dos suíços que fundaram Pirapetinga em 1865, sendo o outro Frederico Lengruber. Em ambos os casos, tanto a professora Maria Apracida como o dr. Norberto, tiveram a oportunidade de terem essas histórias contadas por gerações em seus lares, dando um atestado histórico tão valoroso como qualquer documento sobre nossa região, que jamais foi encontrado, e que não se tem notócia da existência.

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