Manoel Basílio Furtado não foi ao Porto, ou ao arraial, de Limeira do Itabapoana

Existe a equivocada interpretação que o naturalista mineiro foi até o Porto de Limeira, pelo fato dele ter citado sobre a navegação do rio Itabapoana, no entanto, temos neste texto quatro apontamentos que atestam que Manoel Basílio Furtado, em sua estadia de quase três meses em Bom Jesus do Itabapoana em meados de 1873, não passou dos limites da Fazenda Fortaleza, propriedade do Capitão José Carlos de Campos em que ele se hospedou em sua estadia em Bom Jesus, localizada onde hoje situa a comunidade da Usina Santa Isabel.

01 - Quem leu o livro "Itinerário da Freguezia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana à Gruta das Minas do Castelo", escrito em 1875 e lançado em 1884 (AQUI), pôde observar o quanto detalhista o autor se mostrou em suas anotações e observações, por onde ele passou ele colheu informações, fez levantamento da flora, da fauna, da composição do solo e das rochas, além de abordado sobre aspectos socioeconômicos e urbanísticos da freguesia, e no entanto, sobre o Porto de Limeira, ele fez apenas um comentário superficial, destacando a liderança do Comendador Carlos Pinto de Figueiredo no consórcio de fazendeiros que empreenderam no porto, e o capitão José Carlos de Campos era um desses fazendeiros consorciados, podendo Basílio Furtado ter apenas colhido informações sobre o porto com o dono da fazenda em que ele ficou hospedado. Sobre o arraial de Limeira do Itabapoana, ele não faz menção alguma.

02 - Nas duas vezes que Manoel Basílio Furtado menciona o Porto de Limeira, ele não reporta sobre as atividades do porto, que transportava para o oceano carga de café e açúcar, no Porto de Manguinhos, e passageiros para o porto de São João da Barra, Basílio Furtado fala claramente que "a navegação tem sido explorada por um pequeno barco a vapor ATÉ o Porto de Limeira", e também anotou que "a navegação tem sido explorada ATÉ Limeira, com vantagem para lavoura por uma companhia de fazendeiros liderada pelo benfeitor dessas matas, o Comendador Carlos Pinto de Figueiredo". 

Observem que nas duas vezes ele usa o "ATÉ", que eu digitei em caixa alta para dar destaque, o que nos leva a concluir que a navegação na qual Manoel Basílio Furtado se referia, se dava no percurso entre Bom Jesus ATÉ o Porto de Limeira, pois ele ainda cita o "pequeno barco a vapor", sendo que a embarcação que percorria entre o porto e o oceano era no sistema de cabotagem, transportando grandes balsas de carga, sendo bem maior que o barco a vapor citado por Basílio Furtado, tanto que rebocava navios cargueiros que encalhavam na foz do rio Itabapoana. 

Em tempo, o local onde Antônio José da Silva Neném armou seu rancho em Bom Jesus  em 1842, foi em cima de um lajeado de pedra na margem do rio Itabapoana, atualmente onde está a cabeceira fluminense da ponte do centro, que passou a ser denominada em dado momento no século XIX como  "Porto das Pedras", como atesta Padre Mello em seus artigos sobre os primórdios de Bom Jesus do Itabapoana. Em qualquer época da história, "porto" é lugar de chegada e saída de embarcações, de qualquer tamanho ou formato que seja, podendo ser porto marítimo ou porto pluvial.

03 - A região de Limeira faz parte do "baixo-Itabapoana",  e as características geográficas e da biodiversidade da fauna e da flora, são bem diferentes da região do "médio-Itabapoana", de onde Basílio Furtado descreveu em minúcias sobre o ecossistema e suas espécies partindo de  Rosal nos limites com Guaçuí, até a Usina Santa Isabel. Já sobre a região do baixo-Itabapoana, Basílio Furtado não anotou uma linha sequer, sobre absolutamente nada.

Um detalhe demonstra que ele não foi na região do baixo Itabapoana, sequer na região do Mutum, pois na relação das espécies da fauna que ele apresenta em seu livro, não consta jacarés de espécie alguma, e se tem uma espécie que nunca desapareceu de nossa região é o jacaré, notadamente a partir da Fazenda São Jorge, dos herdeiros do ex-prefeito Jorge Assis de Oliveira, entre Carabuçu e Mutum de Cima, até a foz do Itabapoana no Oceano Atlântico. Inclusive os jacarés estão subindo o rio e chegando nos centros urbanos, como em Bom Jesus do Norte-ES em recente registro, lembrando que os crocodilianos são considerados espécies pré-históricas, portanto, muito antes do século XIX já haviam jacarés nos remansos e alagados do baixo-Itabapoana.

04 - No trecho do livro em que Manoel Basílio Furtado aborda a relação do nome do rio Itabapoana com a Pedra do Garrafão, ele relata que ouviu de um indígena coroado que o rio se chamava "Camapoã", por conta da pedra com o mesmo nome, que segundo Basílio Furtado a tradução para a língua portuguesa se refere ao "um pico que se assemelha ao mamelão, ou um seio de uma mulher".

O detalhe que me leva a concluir que Manoel Basílio Furtado não foi até Limeira, se dá no fato da Pedra do Garrafão, ou "Pedra Camapoã", só ter o formato de um mamelão ou seio feminino, se avistada entre Usina Santa Maria, Santa Isabel e nos pontos de altitudes da região Serrana bom-jesuense, pois em Limeira o formato da pedra é completamente diferente, se assemelhando a uma barbatana de tubarão, ressaltando que este formato se visualiza tando na margem capixaba, como nesta foto, como na fluminense, pois a Pedra do Garrafão é achatada.




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