Nas terras da Fazenda Monte Verde, o primeiro assassinato da história na região

Um fato marcante faz da história desta fazenda, ainda mais relacionada com a história dos primórdios de Bom Jesus do Itabapoana, mais precisamente no ano de 1844.

Imagem histórica da Fazenda Monte Verde, extraída da página/Facebook "Rancho Kim-Kim"

Em 1842, foi o ano da chegada do mineiro Antônio José da Silva Neném nas terras onde hoje se localiza a região entre a rodoviária, a ponte do centro e a praça Governador Portela, em Bom Jesus do Itabapoana, desmantando o local e cultivando pequena lavoura para subsistência, junto com ele e sua familia, outras duas outras famílias, que segundo relatos históricos, esses viviam da pesca e da caça. No mesmo ano, o filho mais velho de Silva Neném, Germano da Silva, invadia as terras pertencentes a Fazenda Monte Verde de propriedade de Antônio Dutra Nicácio, em Natividade do Cartangola, atualmente na região rural de Bom Jesus do Querendo, distrito de Natividade-RJ.

Em 1844, Germano da Silva é assassinado a tiros nas terras da Fazenda Monte Verde, o que levou ao seu pai, Antônio José da Silva Neném, a deixar as terras de Campo Alegre, atualmente o centro de Bom Jesus do Itabapoana, e seguir para sua propriedade na região de Santa Luzia, atualmente em Apiacá nas proximidades da Ponte do Jader, vendendo as terras para Antônio Gomes Guerra e indo embora para Piúma, na Província do Espírito Santo, e lá Silva Neném e sua esposa viveram até 1854, quando faleceram.

A narrativa acima enredada, tem como base no artigo do saudoso desembargador e historiador Antônio Isaías da Costa Abreu, que se aprofundou nas pesquisas sobre a história dos primórdios de Bom Jesus do Itabaoana, chegando a constatação que Antônio José da Silva Neném seria um invasor das terras já pertencentes ao Alferes Francisco da Silva Pinto, e não um posseiro (AQUI). Analisando alguns fatos e contextos históricos, não é difícil acompanhar o raciocínio do saudoso históriador.


Segundo me foi relatado há algum tempo, temos entre historiadores, historiadoras e memorialistas de BJI, uma pessoa que tem uma cópia daquilo que seria o título de posse das terras do Campo Alegre em nome de Antônio José da Silva Neném, e que o documento não havia tornado público para evitar um debate direto com a tese do desembargador, não obstante, um fato histórico põe em cheque a autenticidade deste documento, não por parte de qualquer ato da pessoa que o detém, mas sim por conta do próprio Antônio José da Silva Neném.

Em 1825, o Imperador Dom Pedro I revogou  a Lei de Sesmarias que regulamentava os registros de terras no Brasil, desde quando ainda era colônia de Portugal, e somente em 1850 que Dom Pedro II instituiu a a Lei de Terras, que regulamentava as transações das propriedades através dos Cartórios Paroquiais. Segundo um memorialista de Itaperuna, cujo nome me foge da memória, durante o período entre 1825 e 1850 houve um grande movimento de invasões de terras devolutas em diversas regiões do Brasil, com os invasores forjando os títulos de terras, já que não havia por parte do governo imperial uma legislação que regularizava as transações de propriedades, a não ser através da formação de curatos e paróquias.

Como Antônio José da Silva Neném obteve o título de concessão das terras devolutas de Campo Alegre em 1842, se desde 1825 não havia concessão de sesmarias por parte do império? 

O homicídio de Germano da Silva em 1844, pode gaurdar relações históricas com fatos relevantes da história de Bom Jesus do Itabapoana, na partida de Antônio José da Silva Neném em 1844, e com o retorno de Francisco José da Silva em 1857, o outro filho de Neném, que chegou no Arraial do Senhor Bom Jesus postulando um valor expressivo pelas terras que ele dizia pertencer ao seu pai, mas sem apresentar nenhum documento, e mesmo assim, doze desbravadores cotizaram a elevada monta de um conto e cem mil réis, a título de indenização pelo desmatamento da pequena área do centro de Bom Jesus.


Este episódo envolvendo o filho mais novo de Antônio José da Silva Neném com os doze fazenderos cotistas, é o grande mistério que se tornou o marco inicial da fundação do patrimônio do Senhor Bom Jesus em 1857, mediante ao valor exorbitante pago por uma pequena, quase insignificante, área se comparada com todas as fazendas que foram fundadas nequele período.

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