Interpretando Padre Mello, nos primórdios de Bom Jesus do Itabapoana-RJ | capítulo 10

Depois de nove abordagens sobre os erros e econtradições de Padre Mello, na tentativa de construir a narrativa dos fatos na fundação do Patrimônio do Senhor Bom Jesus, fica fácil compreender porque o prefeito Zezé Borges não aderiu a proposta do vigário português

Como havia mencionado no capítulo 5 da série de abordagens sobre os ecritos de Padre Mello, ele iniciou uma empreitada em 1939 visando lançar o livro sobre as origens do povoado, a realização de um grande evento comemorativo em alusão ao centário da chagada de Antônio José da Silva Neném, no caso os festejos se dariam em 1942, e por fim, ele postulava a construção de um monumento em homenagem aos doze fundadores do patrimônio, segundo a história enredada por ele, Padre Mello.

Porque Zezé Borges negaria tal iniciativa de Padre Mello? Obviamente pelo fato da história apresentada não condizer com a verdade dos fatos, ora senhoras e senhores, Zezé Borges era neto de um dos doze fundadores relacionados por Padre Mello, Antônio José Borges, e certamente que ele não se oporia a esta homenagem por motivos pessoais ou irrelevantes.

Relembramos que nos artigos anteriores foram apresentadas QUATRO VERSÕES diferentes de como se deu a fundação do patrimônio, e ainda, a versão escolhida por Padre Mello exclui o Alferes da Silva Pinto entre os fundadores, sem contar o desencontro cronológico entre a suposta chegada de Neném Filho em 1857, e a fundação do patrimônio do Senhor Bom Jesus dos Mathosinhos, datada em documento anterior a 1855, conforme registro cartorário da época.

Padre Mello não conseguiu lançar o livro, publicou no jornal A Voz do Povo dezenas de artigos com inúmeros erros primários e fatos contraditórios mediante a documentos históricos, e muito menos conseguiu realizar o evento pelo centenário, o que nos leva a concluir que ele não conseguiu apoio com o prefeito e com o restante da sociedade, bem como não houve nenhuma adesão para se erguer o monumento proposto.

A história esboçada por Padre Mello em seus artigos, se tornou oficial do município depois de seu falecimento na década de 1950, como uma espécie de homenagem póstuma mas sem que houvesse qualquer estudo aprofundado sobre a verdadeira história que transcorreu nos primórdios de Bom Jesus do Itabapoana, fato que somente começou a mudar a partir da década de 1980 com o lançamento do livro "Bom Jesus do Itabapoana", de Francisco Camargo, que foi a primeira publicação respaldada pelo poder público e pela comunidade literária/histórica/cultural bom-jesuense, a de fato contextualizar a ocupação do solo bom-jesuense pelos desbravadores mineiros, inclusive com abordagens sobre o contexto político/conflituoso da época. 

Francisco Camargo foi o primeiro memorialista a abordar a história de Bom Jesus a partir de 1822, e dando ao Alferes Francisco da Silva Pinto e demais desbravadores dos distritos, o merecido protagonismo histórico, além de construir o enredo de seu livro na fundação dos arraiais que hoje se constituem os distritos.

Além de Francisco Camargo, temos como pesquisadores de nossa história, o saudoso Antônio Dutra, Maria Aparecida Dutra Viestel, o saudoso Pedro Teixeira, o saudoso Antônio Isaísas da Costa Abreu e Norberto Boechat, todos esses contribuiram decisivamente para termos condições de construirmos nossa história desde os primórdios, e todos esses, tem o Alferes Francisco da Silva Pinto como o fundador de Bom Jesus do Itabapoana.

Na página 91 do livro "Padre Mello, prosa e verso", o autor se mostra claramente contrariado com quem contrariou seu desejo, até mesmo deixando nas entrelinhas que o nome de Antônio José da Silva Neném seria o nome que "ninguém mais pronuncia". Fato justificável pelo fato de que Neném não representa absolutamente nada na história de Bom Jesus do Itabapoana.

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