Roberto Silveira - meteórico, popular e visionário

Até o presente momento, no ano de 2023, não surgiu nenhum fenômeno popular no estado do Rio de Janeiro como Roberto Teixeira da Silveira, o “Governador Roberto Silveira”. Sua história é impactante desde a sua primeira eleição em 1947, e em seu tempo, no Brasil somente três grandes líderes populares se equiparavam a ele, Juscelino Kubitschek, João Goulart e Leonel Brizola, e somente um o superava, Getúlio Vargas.



Entre os 24 e os 35 anos, Roberto Silveira venceu quatro eleições em âmbito estadual, e cada uma dessas vitórias contam com ingredientes que dão contornos épicos a sua trajetória política, sem contar com a impressionante capacidade de concretizar ideias que o então governador Roberto Silveira nos mostrou em apenas dois anos de mandato, que foi o suficiente para ele edificar muito mais do que qualquer outro governador ou governadora que tenha ficado quatro ou até oito anos no mandato, Roberto Silveira é insuperável em realizações até hoje.


Roberto nasceu em 11 de junho de 1923 no sítio Rio Preto, atualmente sítio Benedito Santos, em Calheiros, 3º distrito de Bom Jesus do Itabapoana, logo depois que nasceu sua família se mudou para a fazenda São Tomé também em Calheiros, onde ficariam até o final da década de 1920, com seu pai tendo que desfazer da propriedade mediante a crise do café de 1929. Filho de Dona Biluca Teixeira e de Boanerges Silveira,, este o grande influenciador dos três filhos homens que ingressaram na vida pública, Roberto, Badger e Zequinha Silveira, Boanerges Silveira foi vereador em Itaperuna representando o distrito de Bom Jesus do Itabapoana, se tornando um getulista e trabalhista convicto desde a ascensão de Getúlio Vargas ao poder na Revolução de 1930. Além dos três filhos homens, o casal Boanerges e Biluca ainda teve duas filhas, Dinah e Dora.


Roberto Silveira iniciou seus estudos na Barra do Pirapetinga na escola da Professora Olga Ebendinger, e posteriormente quando sua família se mudou para Bom Jesus, ele estudou na escola da Professora Amália Teixeira, permanecendo em Bom Jesus até 1937, quando se mudou para Niterói, seguindo o caminho trilhado pelo irmão mais velho, Badger Silveira, que já estava na então capital do antigo estado do Rio de Janeiro desde 1934, e seu irmão do meio, Zequinha Silveira desde 1935.


Em Niterói, Roberto Silveira iniciou o ensino secundarista onde começou a se descobrir como personagem político quando liderava o movimento estudantil, ingressou na faculdade de direito, e logo depois começou a trabalhar no jornalismo, no periódico niteroienhense Diário da Manhã. Mas foi no movimento estudantil universitário que despontava um meteoro político, quando em 1942, aos 19 anos, ele liderou a fundação do centro acadêmico no curso de direito que ele estudava, no período em que o Brasil decidia participar da 2ª Guerra Mundial junto com os aliados do ocidente..


Roberto Silveira e seus irmãos, Badger e Zequinha, viveram profundas dificuldades quando se mudaram para Niterói, chegando os três a dividirem uma só marmita no almoço, complementando a alimentação com pão e bananas, tendo Roberto chegado a vender laranjas nos intervalos do curso secundarista em que ele estudava, podendo esta dura fase da vida ter sido determinante na formação do caráter popular e do senso de justiça social do político Roberto Silveira.

Em 1945 Roberto Silveira se filia ao Partido Trabalhista Brasileiro, e inicia seu trabalho de base em busca de condições para disputar a eleição de 1947, concorrendo a uma vaga na Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro, tendo como base eleitoral Niterói, Resende e Bom Jesus do Itabapoana. As eleições gerais daquele ano ocorreram no dia 19 de janeiro 47, e Roberto se elegeu na última vaga de sua legenda, com apenas um voto a mais do que seu primeiro suplente, foi o suficiente para o deputado constituinte eleito iniciar sua trajetória meteórica.


Mesmo residindo há dez anos em Niterói, e com o mandato de deputado estadual constituinte, Roberto Silveira sempre se manteve conectado com sua terra natal, Bom Jesus do Itabapoana onde residia seus pais, e Calheiros onde ele nasceu e mantinha seus laços de amizades da infância. E foi na festa de agosto de 1947 que Roberto conheceu Ismélia Saad, em um baile da rainha da festa, com o namoro entre eles se iniciando no dia seguinte, até se casarem em 1951.


Em seu primeiro mandato como deputado estadual, Roberto Silveira se destacou não só nos trabalhos da assembleia constituinte como também na campanha “O Petróleo é nosso”, defendendo a criação da Petrobrás e o monopólio do petróleo brasileiro, promovendo grandes atos e passeatas na região metropolitana do Rio de Janeiro, lhe dando ainda mais projeção política.


Durante seu primeiro mandato, Roberto e Badger Silveira percorreram todos os municípios do estado do Rio de Janeiro, buscando arregimentar aliados e fundar diretórios do PTB em todo estado, sempre procurando personagens das camadas populares e periféricas das cidades, com isso, sua campanha pela reeleição em 1950 resultou em uma votação expressiva, ficando Roberto Silveira entre os quatro deputados mais votados entre todas as coligações.


A ascensão política de Roberto Silveira rompia as divisas do estado do Rio de Janeiro, ganhando projeção nacional ao ingressar na cúpula da executiva nacional do Partido Trabalhista Brasileiro, dando uma cabal demonstração de força política dentro do partido, ao presidir a convenção nacional do PTB em 1952, que elegeu João Goulart presidente nacional do partido.


Tão logo assumiu o segundo mandato como deputado estadual, Roberto Silveira aceitou o convite do governador Ernani do Amaral Peixoto para assumir a secretaria de estado de justiça e interior, dando a Roberto o instrumento político que possibilitou a ele ganhar ainda mais capilaridade eleitoral em todo estado do Rio de Janeiro.


Em 1954 Roberto considerava a possibilidade de disputar a eleição para governador, sendo ele convencido pelo pai a aceitar a candidatura como vice-governador de Miguel Couto e assim manter a aliança com o poderoso Amaral Peixoto, que já havia externado sua preferência por Couto. Roberto seguiu o conselho de Boanerges Silveira e se elegeu vice-governador, obtendo 50.000 votos a mais que o governador eleito. Para muitos integrantes do PTB fluminense, a eleição de 1958 já tinha um candidato favorito ao Palácio do Ingá.



Mesmo muito jovem, com apenas trinta e três anos, Roberto Silveira demonstrou personalidade forte e altivez, ao anunciar a ruptura com o governador Miguel Couto em 1956, liderando o levante do partido contra o chefe do executivo mediante aos desentendimentos entre o PSD e o PTB na ALERJ. Roberto passava então a desempenhar o papel de grande líder da oposição ao governo do estado.



Em 1958 Roberto Silveira estava pronto para disputar o governo do estado do Rio de Janeiro, primeiro contando com o apoio do então maior líder trabalhista nacional, João Goulart, e com sua popularidade indiscutivelmente em alta. Suas movimentações e articulações para criar a Aliança Popular Fluminense, teve como ingredientes a ousadia e o inesperado, ousadia em desafiar o mais poderoso líder político do estado, Amaral Peixoto do PSD, que além de ex-aliado político, o Almirante ainda era padrinho de casamento de Roberto, e que lançara Getúlio Moura. Na ocasião Amaral Peixoto ocupava o cargo de embaixador do Brasil em Washington, EUA, mas que conduzia a política fluminense com mão de ferro, até que Roberto Silveira o procurou e anunciou que se candidataria ao governo do estado, postulando seu apoio, e Peixoto se posicionando contrário, foi alertado por Silveira que ele iria perder a disputa, que ele, Roberto iria vencer, inclusive com o apoio do correligionário de Amaral Peixoto, o governador Miguel Couto.


O inesperado foi Roberto conseguir a mais inusitada aliança com a UDN de Carlos Lacerda, o “Corvo” que foi um dos principais responsáveis pelo suicídio de Cargas em 1954, em 1958 ele  atravssou a baía da Guanabara para tentar impedir que o diretório estadual de seu partido selasse a aliança com o PTB do trabalhista Roberto Silveira.

Carlos Lacerda discursou por mais de seis horas, atacando a todos que defendiam a aliança com Silveira, mas no final, por maioria absoluta a UDN decidiu se aliar ao Partido Trabalhista Brasileiro, apoiando Roberto Silveira.


A campanha de Roberto Silveira foi revolucionária, como sua própria trajetória política, ao ser pioneira em estratégias eleitorais que são adotadas até hoje, Roberto Silveira era exímio estrategista publicitário e de marketing político, sendo o primeiro a fazer corpo-a-corpo, pioneiro a utilizar pesquisas de intenções de votos como norte estratégico, sendo o primeiro cliente do recém fundado Ibope, de Paulo Montenegro, pai de Carlos Augusto Montenegro, foi o primeiro a usar um samba como jingle de campanha, dentre outras iniciativas que fizeram dele imbatível em 1958, vencendo com 376.949 votos resultando 56.63%, contra 288.692 de Getúlio Moura com 43.37%.


O estado do Rio de Janeiro vivia uma profunda crise econômica e social, e os desafios do dr. Roberto eram gigantescos, e logo no início de seu governo, ele enfrenta uma crise sem precedentes, com o violento levante popular contra a greve dos operadores das barcas que faziam a travessia da baía da Guanabara, na estação de Cantareira.


O governo de Roberto Silveira durou de 31 de janeiro de 1959 a 20 de fevereiro de 1961, alguns dias a mais de dois anos, mas que foi revolucionário, transformando radicalmente o perfil estrutural e econômico do estado do Rio de Janeiro, investindo pesadamente em rodovias, usinas de geração de energias e um arrojado programa popular de educação.



No dia 20 de fevereiro de 1961 foi dado o ponto final a uma das mais impressionantes trajetórias políticas na história do Brasil, uma tragédia que começou com um forte temporal que causou enormes danos em Santo Antônio de Pádua, Roberto Silveira estava com a família no Palácio Itaboraí, residência de verão do governo do estado do RJ em Petrópolis, e o governador decidiu ir até a cidade atingida, porém, a aeronave com o governador perdeu o controle ainda no local da decolagem, no Palácio Rio Negro, residência de verão do governo federal, também em Petrópolis. No helicópetro estavam o piloto, o governador, o fotógrafo e o cinegrafista.


Ao perder o controle, a aeronave colidiu com uma parte de um prédio anexo ao palácio, caindo há alguns metros do heliponto. O governador, o piloto e o cinegrafista conseguiram sair a tempo e salvos, mas o fotógrafo ficou preso nas ferragens. Foi Roberto Silveira quem retornou até a aeronave em chamas para tentar retirar o assessor preso, no momento em que ocorreu uma forte explosão que atingiu todo corpo do governo com graves queimaduras. Com os protocolos de segurança normalizados atualmente para os chefes de governos, Roberto Silveira não conseguiria retornar até a aeronave, um segurança o impedia certamente.


Roberto Silveira agonizou no hospital por oito dias, com uma multidão se formando em frente a cada dia que passava, e com o noticiário chegando a anunciar que o governador estava reagindo ao tratamento, mas no dia 28 de fevereiro ele veio a óbito, causando uma impactante comoção, não só no estado do Rio de Janeiro, mas como em todo país.


As manchetes dos principais jornais do país, noticiaram a morte de uma liderança popular de abrangência nacional, em seu funeral teve a presença das mais altas personalidades políticas e militares do país, além da multidão que tomou as ruas de Niterói durante seu cortejo fúnebre. O trabalhismo sofria a segunda perda entre seus líderes, primeiro Vargas em 1954, e depois Roberto em 1961.


A morte de Roberto Silveira, está dentro do contexto de lacunas históricas deste período turbulento que o Brasil vivia, para muitos personagens que vivenciaram a trajetória política de Silveira, inclusive aí sobrinhos de Roberto Silveira, sua morte poderia ter sido provocada dentro do hospital, por agentes a serviço de personagens que tramaram contra o trabalhismo desde o suicidio de Vargas, e que conseguiram seus objetivos em 1964, na derrubada de João Goulart. Ressaltando que em 1957 Roberto já era monitorado pelo serviço de inteligências dos EUA, tendo inclusive um episódio em que ele estaria impedido de entrar no país em uma viajem junto com o vice-presidente João Goulart, sob a legação que ele flertava com o comunismo, com Jango impondo a participação de Roberto em sua comitiva, e o governo dos EUA tendo que ceder e aceitar a entrada do político bom-jesuense.


As ambições políticas de Roberto Silveira, miravam uma disputa presidencial para 1964, ele que já ganhara projeção nacional na cúpula do PTB desde seu segundo mandato como deputado estadual, como governador ele se articula com lideranças de outros estados, chegando a promover um grande encontro em Petrópolis com governadores do nordeste, além dos muitos eventos com autoridades internacionais, em uma clara movimentação para dar projeção ao seu nome como candidato a vice-presidente ou presidente.


O fenômeno político nascido em Calheiros de Bom Jesus do Itabapoana, teve uma trajetória de pouco mais de quinze anos desde sua filiação no Partido Trabalhista Brasileiro, venceu quatro eleições entre 1947 e 1958, e até mesmo vinte meses depois de morto, ele venceu a eleição para governador em 1962, elegendo seu irmão Badger Silveira, que somente usou seu nome, a consanguinidade e o compromisso de levar adiante o legado de Roberto Silveira. Sem dúvidas, um personagem raro na história política brasileira.


Roberto nos deixou inúmeros exemplos políticos, e também pessoais, e o principal deles que todos os governantes e políticos deveriam seguir, é o amor incondicional por sua terra natal, suas origens e seus laços familiares e sociais, se fazendo presente em toda sua vida pública desde que se mudou para Niterói, além de investir no desenvolvimento de sua terra natal com o apreço especial.


A reverência de Roberto Silveira por Bom Jesus do Itabapoana é tamanha, que ele fez desta terra a capital do estado do Rio de Janeiro por duas ocasiões, nas festas de Agosto de 1959 e 1960, trazendo para os três dias de festejos todo seu secretariado, e fazendo da residência de seu sogro o palácio de governo, daí a grande projeção dada a tradicional Festa de Agosto, com toda imprensa do estado se deslocando para Bom Jesus para cobrir os atos governamentais, bem como a própria festa.


Em Bom Jesus do Itabapoana, temos a Escola Estadual Governador Roberto Silveira, o Instituto de Menores Roberto Silveira, a Avenida Governador Roberto Silveira, a erma situada na praça Governador Portela, e em Calheiros temos o Memorial Governadores Roberto e Badger Silveira, o suficiente para eternizar o nome do maior personagem nascido em solo bom-jesuense, mas, falta a história de Roberto Silveira ser incorporada na grade curricular de todas as escolas do município, públicas e privadas, para que seu legado e seus valores, tais como a lealdade, o aguçado senso de justiça social, o arrojo e a ousadia para transformar o estado do Rio de Janeiro, influencie o espírito de cidadania e o senso de justiça social, para que as futuras gerações não permitam que esta personagem fascinante caia no esquecimento.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A primeira geração de bom-jesuenses, surgiu de dois casais

A Pedra Branca de Pirapetinga-BJI, na rota do montanhismo

Um barril de pólvora, chamado Bom Jesus do Itabapoana

A genética puri, está entre nós!

A Fazenda Monte Verde, que une a história de duas "Bom Jesus"

Nas terras da Fazenda Monte Verde, o primeiro assassinato da história na região