Em 1869, o Padre Preto de Calheiros, celebrou um casamento em Varre-Sai

O historiador Fábio Martins Faria, administrador do excelente blog "Raízes Genealógicas", postou em seu Facebook um registro de casamento datado em 20 de janeiro de 1869, em Varre-Sai, com um padre substituto assinando o termo de registro (AQUI).


O padre em questão, é João Mendes Ribeiro, o "Padre Preto de Calheiros", que também celebrou alguns casamentos e batismos no então arraial de Santo Antônio do Rio Preto. Dos registros encontrados e tornados públicos, um é de 1870 e originado de uma anotação do Monsenhor Francisco Apoliado em 1958, e outros quatro ou cinco registros de casamentos e batismos de 1873, que estão arquivados na Matriz do Senhor Bom Jesus.

Através da importante pesquisa realizada pelas historiadoras Cláudia Bastos e Maria Cristina Borges em 2020 (AQUI), podemos concluir que o padre João Mendes Ribeiro residia e era propritário de terras em Calheiros, porém, sem que ele tenha sido formalmente designado como vigário titular da capela de Santo Antônio, conforme nos registros das celebrações que ele realizou, sempre na condição de vigário substituto, além dele ser subordinado a Diocese de Mariana-MG e a Freguesia da Paróquia do Senhor Bom Jesus já existia desde 1862 e era subordinada a Diocese do Rio de Janeiro. 

Ainda cabe estacar que, em 1867 o pároco titular da freguesia do Senhor Bom Jesus, era o padre José Guedes Machado, responsável pela Matriz do Senhor Bom Jesus, pela capela de Santo Antônio em Calheiros e a capela de São Sebastião em Varre-Sai, podendo João Mendes Ribeiro ser um padre que tinha permissão para atuar de maneira "avulsa" como substituto em mais de uma capela, inclusive fazendo desta atividade como meio de obtenção de renda extra.

A história do vigário João Mendes Ribeiro, permanece alimentando perguntas que ficam cada vez mais distantes das respostas, mesmo com tantas informações documentadas que vieram à tona, o que conseguiu se observar foi as diferenças do mito de origem narrado na tradição oral dos moradores de Calheiros, frente ao personagem identificado através de pesquisas históricas, que atestam sua chegada antes e 1855, que ele era proprietário de terras nas duas margens do rio Itabapoana, e na margem capixaba ele residia na localidade denominada como "Cachoeira da Fumaça", e ainda na margem capixaba ele constava nos registros do Almanaque Mercantil como produtor de café em São José do Calçado em 1863, e "negociante" em Bom Jesus do Itabapoana no ano de 1864, bem como se constata que ele jamais foi designado como vigário titular da capela de Santo Antônio, seja em 1867, ou em qualquer outra época, além de termos registros históricos que contradizem que sua morte se deu na epidemia de varíola ocorrida em Calheiros, entre o final de 1872 e o início de 1874.

As principais perguntas sobre o Padre Preto de Calheiros, se dá sobre como ele morreu e qual foi o destino dado as suas terras, podendo elencar duas hipóteses para esta segunda questão. A primeira possibilidade se dá na hipótese de João Mendes Ribeiro ter família constituída, pois naquele tempo era normal os padres se relacionarem, casarem e terem filhos, e seus herdeiros podem ter vendido suas terras depois de seu falecimento. A segunda possibilidade nos leva a conjecturar que o Padre Preto tenha sido assasinado e suas terras repartidas entre os mandantes do crime.

Abaixo, temos os dois documentários sobre a história do Padre Preto de Calheiros, o primeiro baseado no mito de origem narrado pela tradição oral, e o segundo sobre o personagem identificado através da pesquisa de Cláudia Bastos e Maria Cristina Borges.

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