Um barril de pólvora, chamado Bom Jesus do Itabapoana

Após a partida de Padre Mello, Bom Jesus do Itabapoana mergulhou em uma profunda crise social com a ocorrência de graves conflitos entre setores da sociedade, no mesmo período em que vieram a disputas políticas viscerais entre os grupos de Zezé Borges e Gualthier Figueiredo, além do conflito de uma década entre o jornal A Voz do Povo e a Igreja Católica, seja com a Paróquia do Senhor Bom Jesus ou com a própria Diocese de Campos dos Goytacazes.

O Monsenhor Ovídio Simon, e parte do texto da condenação da Diocese contra o jornal A Voz do Povo

O substituto imediato de Padre Mello foi o Padre Alípio Deodato, mas que ficou por pouco tempo, de 1947 até 1950, sem saber por qual motivo de sua breve passagem por Bom Jesus, e dpeois dele veio o Monsenhor Ovídio Simon, que ficou aqui entre 1950 e 1956, sendo ele o centro de uma polêmica envolvendo Osório Carneiro, então diretor do jornal A Voz do Povo, a maçonaria e outros setores da sociedade que acabou se consumando com a expulsão do padre do município em 1956.

As consequências deste embate ideológico entre o prinicpal jornal da cidade e o vigário da paróquia local, tendo como temas de fundo o divórcio e a Festa da Coroa do Divino Espírito Santo, que teria sido interrompida pelo Monsenhor Ovídio, causando profunda contrariedade aos simpatizantes de Padre Mello no campo da intelectualidade bom-jesuense, resultou em uma condenação sumária decretada pela Diocese de Campos dos Goytacazes, no qual proibia os fiéis católicos da Paróquia do Senhor Bom Jesus de lerem o jornal A Voz do Povo, condenação que foi iniciada em 1953 e com o decreto condenatório sendo fixado na porta da Matriz do Senhor Bom Jesus.

Monsenhor Francisco Apoliano, aos 38 anos em 1955, na despedida de sua primeira paróqia, e quando assinou junto com lideranças políticas de Marco-CE, a emancipação do então distrito de Sobral-CE

Foi neste ambiente belicoso de nossa história que desembarcou aqui um padre cearense de quarenta anos, em janeiro de 1957, com o intuito de ficar somente um ano em Bom Jesus, pois já era notória a atmosfera política e social daqui e praticamente nenhuma padre deseja vir, Francisco Apoliano ainda se deparou com um cenário de miséria e abandono dos idosos, que se formavam em multidões na porta da igreja antes das missas de domingo, levando ele a buscar meios de sanar essa incômoda chaga social bom-jesuense, que resultou na criação do Abrigo dos Idosos José Lima em 1962 e com a inauguração da atual sede em 1970.

Sobre o imbróglio encolvendo o jornal A Voz do Povo e a Diocese de Campos dos Goytacazes, este teve seu desfecho em 1963, dez anos depois da condenação religiosa, com Osório Carneiro praticamente sendo obrigado a vender o jornal, assumindo uma nova diretoria, e com o Padre Francisco Apoliano intercedendo junto a diocese, que atendeu o pedido do vigário e revogou a condenação decretada em 1953.


Abaixo, a carta da nova diretoria do jornal A Voz do Povo, solicitando ao Padre Francisco a intermediação para revogar a condenação.

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