86 anos, de quê?
O dia 15 de agosto deveria ser instituído como o “Dia da Divina Confusão”, quando observamos o desconhecimento histórico em nossa sociedade, e principalmente em nossos governantes, como no caso do prefeito Paulo Sergio e o vereador Pedro Renato, que ignoram solenemente a identidade cultural dos bom-jesuenses e distorcem nossa história, sendo que na verdade eles deveriam preservar nossa história.
A página oficial da prefeitura no Facebook também comete aberrações com nossa história, ao mentir sobre a ficção de que a emancipação de Bom Jesus do Itabapoana passou a ser comemorada na Festa de Agosto. Nunca em toda história da Festa de Agosto se comemorou a emancipação, somente em 2019 que as duas emancipações foram celebradas no encontro do bom-jesuense ausente, realizado na Tenda Cultural Élcio Xavier, que homenageou as famílias dos três personagens centrais nos dois episódios, Pedro Gonçalves da Silva Júnior, Coronel Luiz Vieira de Rezende e Zezé Borges.
Mencionar os “86 anos” de Bom Jesus do Itabapoana é ocultar uma série de momentos históricos importantíssimos, que forjaram a sociedade de Bom Jesus do Itabapoana, conforme você pode conferir na relação de 52 fatos relevantes de nossa história que são anteriores a 1938.
São 203 anos, quando chegaram os dois pioneiros da colonização do solo de Bom Jesus do Itabapoana, chegando em Pirapetinga e Barra do Pirapetinga, o Alferes Francisco da Silva Pinto, vindo de Barbacena-MG, e seu cunhado, o Guarda-mor Fernando Antônio Dutra, vindo de São João do Nepomuceno-MG, em 1822.
São 185 anos, quando o Tenente Felisberto Gonçalves Dutra fundou em 1840 o arraial de Santo Antônio do Rio Preto, atualmente Calheiros, 2º distrito de Bom Jesus do Itabapoana.
São 183 anos, quando o Alferes Francisco da Silva Pinto se mudou em definitivo com sua família, de Barbacena-MG para a Barra do Pirapetinga, em 1842.
São 183 anos, que o Padre Germano Gonçalves da Silva Xavier e o Coronel José Dutra Nicácio, se refugiaram de São João do Nepomuceno para o Vale do Itabapoana, para não serem presos na Revolução Liberal de Barbacena de 1842, permanecendo na região por dois anos. Possivelmente eles ficaram na Fazenda Barra do Pirapetinga, do Alferes Francisco da Silva Pinto, que era cunhado do Coronel José Dutra Nicácio.
São 183 anos, quando Antônio José da Silva Neném junto com sua família e agregados, chegaram em 1842 na região central de Bom Jesus, e permaneceram acampados vivendo da caça e da pesca por dois anos.
São 181 anos, que temos registrado o primeiro homicídio da região, em 1844 com o assassinato de Germano da Silva, filho de Antônio José da Silva Neném, nas terras da Fazenda Monte Verde do Coronel Antônio Dutra Nicácio, irmão de Fernando Antônio Dutra e do Coronel José Dutra Nicácio, em Bom Jesus do Querendo, próximo a Pirapetinga de bom Jesus.
São 175 anos, quando o Alferes Francisco da Silva Pinto construiu a primeira casa de alvenaria de Bom Jesus do Itabapoana/sede, na parte de cima da praça Governador Portela ao lado do Big Hotel, em 1850.
São 175 anos, quando o Padre Germano Gonçalves da Silva Xavier e seu irmão José Rodrigues Chaves (sobrinhos-netos de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes), fundaram a Fazenda da Liberdade em 1850, que deu início ao povoamento do arraial de Santo Antônio da Liberdade, atualmente Carabuçu, 4º distrito de Bom Jesus do Itabapoana.
São 174 anos, quando o Alferes Francisco da Silva Pinto e os irmãos José Rodrigues Costa e Antônio Furtado Costa, fundaram em 1851 o patrimônio do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, constituindo o arraial de Itabapoana.
São 174 anos, quando o Tenente Francisco das Chagas de Oliveira França construiu em 1851 a primeira capela de Bom Jesus/sede, que segundo versão relatada por padre Mello seria em devoção a Santa Rita de Cássia, por outro lado, documentos históricos atestam que pelo menos desde 1855 a capela era em devoção ao Senhor Bom Jesus de Matosinhos.
São 173 anos, quando o Capitão Francisco José Diniz e o coronel Felisberto Antônio Gonçalves, fundaram o arraial de Arrozal de Sant’Ana em 1852, atualmente Rosal, 3º distrito de Bom Jesus do Itabapoana.
São 173 anos, quando o Capitão Francisco José Diniz prendeu em 1852 em sua fazenda em Rosal, o foragido da justiça Manoel da Motta Coqueiro, que ganhou notoriedade como a “Fera de Macabu”, devido a acusação sofrida pela chacina de uma família de meeiros em sua fazenda, em Conceição de Macabu. Manoel da Motta Coqueiro foi preso, julgado e condenado a pena de morte, sendo enforcado. Segundo relatos históricos, ele teria sido o último homem livre a ser condenado à forca, mediante a constatação posterior que ele seria inocente, levando Dom Pedro II a abolir a pena de morte no Brasil.
São 173 anos, que está registrado nos arquivos da Paróquia do Senhor Bom Jesus a certidão do primeiro casamento realizado em Bom Jesus do Itabapoana, no caso na sede do município, celebrado pelo padre Germano Gonçalves da Silva Xavier em 1852, na união de Maria Magdalena de Figueiredo, filha do Alferes Francisco da Silva Pinto e Francisca de Paula Figueiredo, com Carlos Rodrigues Firmo.
São 170 anos, quando foi constituído o Curato do Senhor Bom Jesus, em 1855.
São 170 anos, que está registrado nos arquivos da Paróquia do Senhor Bom Jesus a certidão do primeiro nascimento da história de Bom Jesus/sede, celebrado pelo padre Germano Gonçalves da Silva Xavier em 1855, no caso Maria Rodrigues Firmo de Figueiredo, filha do casal Maria Magdalena de Figueiredo e Carlos Rodrigues Firmo.
São 170 anos, que ocorreu a primeira crise epidemiológica da história do município de Bom Jesus do Itabapoana, com o surto de cólera-mórbus aplacando o povoado de Itabapoana em 1855. Naquele tempo não havia nenhuma estrutura de atendimento de saúde, não havia médico ou farmacêutico, foi o Tenente Francisco das Chagas de Oliveira França e sua esposa Maria Francisca de Paula Souza, que providenciaram uma enfermaria na Fazenda Valão do Chagas, próximo onde atualmente está o Valão do Odilon Diniz, e a câmara de vereadores de Campos dos Goytacazes providenciou os profissionais de saúde para cuidar dos infectados.
São 165 anos, quando foram fincadas as bases da devoção ao Divino Espírito Santo em Bom Jesus, em 1860 com a chegada das relíquias sagradas, a coroa e o cetro, trazidas de Minas Gerais para a Barra do Pirapetinga pelo casal Francisco José Borges e Ana Rosa Teixeira, que juntos com Francisco Teixeira de Siqueira, irmão de Ana Rosa, iniciaram ainda na Barra do Pirapetinga as celebrações do Divino, até 1862
São 163 anos, que serão comemorados no dia 14 de novembro de 2025, a fundação da Paróquia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana em 1862.
São 163 anos, que serão comemorados no dia 14 de novembro de 2025, a elevação do Arraial do Senhor Bom Jesus para Freguesia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana em 1862.
São 162 anos, quando foi realizada a primeira festa do Divino Espírito Santo em Bom Jesus/sede, realizada em maio de 1863.
São 161 anos, quando um consórcio de fazendeiros bom-jesuenses liderados pelo Comendador Carlos Pinto de Figueiredo, filho do Alferes Francisco da Silva Pinto, iniciaram em 1864 as operações do Porto de Limeira do Itabapoana, explorando a navegação do rio Itabapoana até o oceano, para transporte de passageiros com destino a Freguesia de São João da Barra e para transporte de café, produzido nas regiões do Caparaó e do Vale do Itabapoana, com destino ao Porto de Manguinhos.
São 161 anos, que tivemos a chegada do primeiro piano da história do município de Bom Jesus do Itabapoana, trazido do Rio de Janeiro em 1864 de barco a vapor até o Porto de Limeira, de carro de boi até a Barra do Pirapetinga, e no lombo dos escravizados até na Barra Funda, região alta de Rosal, na fazenda da família Sá Vianna.
São 161 anos, quando o suíço Frederico Lengruber junto com seu filho João Pedro Lengruber, e seus genros, os irmãos Júlio e Norberto Emílio Boechat, também filhos de suíços, fundaram em 1864 o arraial de Ribeirão Pirapetinga, atualmente Pirapetinga 5º distrito de Bom Jesus do Itabapoana.
São 155 anos, quando João Pedro Lengruber construiu em 1870 o casarão de Pirapetinga, de pé e preservado até hoje na praça João Catarina, no quinto distrito de Bom Jesus do Itabapoana.
São 153 anos, quando foi fundada em 1872 a primeira loja maçônica de Bom Jesus do Itabapoana, a Oficina União Itabapoana.
São 153 anos, quando Bom Jesus do Itabapoana, e quase toda província do Rio de Janeiro, sofreram com a epidemia de varíola que iniciou no final de 1872 e terminou no início de 1874, aplacando severamente com o povoado do arraial de Santo Antônio do Rio Preto, atualmente Calheiros.
São 152 anos, quando esteve na freguesia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana por quase três meses, o médico e naturalista Manoel Basílio Furtado, em expedição científica e biológica entre Bom Jesus e a gruta das minas do Castelo-ES. Das anotações minuciosas de Basílio Furtado em sua expedição, ele escreveu um livro em 1875 com detalhes preciosos sobre Bom Jesus em 1873, como a existência de duas escolas.
São 150 anos, que está registrada a mais antiga fotografia de Bom Jesus do Itabapoana, capturando em 1875 a imagem do Alto Santa Rita com duas casas e a capela erguida em 1851, que já sediava a paróquia do Senhor Bom Jesus, localizada junto com as duas casas da imagem onde hoje está o Espaço Cultural Luciano Bastos.
São 147 anos, quando os desbravadores de Bom Jesus do Norte, Carlos de Aquino Xavier e seus irmãos, Júlio e Joaquim, construíram a primeira ponte de madeira ligando as duas Bom Jesus em 1878.
São 145 anos, que foi formada a primeira corporação musical de Bom Jesus do Itabapoana em 1880, a banda do “Maestro Feliz”, Félix Joaquim de Souza Machado.
São 145 anos, que foi realizada a primeira missa no novo templo da paróquia do Senhor Bom Jesus em 1880, que originou a atual Matriz do Senhor Bom Jesus do Itabapoana, mesmo ainda inacabado naquele ano, sendo o mesmo concluído em 1881 ainda sem as torres, tendo somente a “nave” (salão) e dois coretos em frente.
São 140 anos, quando o suíço François Tardin ergueu em 1885 o casarão até hoje preservado, conhecido atualmente como “Solar dos Tardin”, ou “Casarão da Jesuína”, que foi a esposa de François.
São 137 anos, quando foi inaugurado o “Centro Republicano” em Bom Jesus do Itabapoana em outubro de 1888, com o ato sendo marcado pela violência da guarda imperial de Campos dos Goytacazes, hostilizando e agredindo os simpatizantes do movimento republicano, O evento, ocorrido em frente a residência do Dr. Leônidas Peixoto de Abreu Lima onde hoje está agência do Bradesco, teve repercussão nacional gerando protestos na capital do Império pelos deputados do partido liberal, que defendiam o fim da monarquia e a instalação da república federativa.
São 136 anos, quando o Coronel Luiz Vieira de Rezende participava da inauguração do Centro Republicano em Laje do Muriaé, em abril de 1889, quando tivemos outro grave conflito com a guarda imperial contra os simpatizantes da república. Neste episódio que ficou conhecido como a “Noite das Garrafadas de Laje do Muriaé”, estava presente o então líder repúblicano, e posteriormente presidente do Brasil, Nilo Peçanha, que para escapar da prisão tentada pela guarda imperial, ele se refugiou para a fazenda Boa Fortuna em Calheiros, de propriedade do Coronel Luiz Vieira de Rezende, que era amigo pessoal de Peçanha.
São 135 anos, que serão comemorados em 25 de dezembro de 2025 pela primeira emancipação de Bom Jesus do Itabapoana, decretada pelo Governador Francisco Portela em 1890, sendo constituída a Vila de Itabapoana, e tendo como o primeiro presidente da Intendência Pedro Gonçalves da Silva Júnior.
São 134 anos, quando foi instalada a primeira comarca do poder judiciário em Bom Jesus do Itabapoana, no dia 15 de agosto de 1891.
São 134 anos, que foram constituídos em 1891 os mais antigos logradouros públicos de Bom Jesus/sede que permanecem com a mesma nomenclatura até hoje , as ruas Tenente José Teixeira, Dr. Abreu Lima, 15 de Novembro e a praça Governador Portela.
São 133 anos, quando a Vila de Itabapoana perdeu sua autonomia política e administrativa em maio de 1892, passando a ser o 10º distrito de Itaperuna, causando profunda contrariedade e indignação na sociedade bom-jesuense, que jamais aceitou e reconheceu tal condição.
São 130 anos, quando chegaram em território bom-jesuense os primeiros imigrantes italianos em 1895, a maior parte chegando por Varre-Sai e outros vindo de Vitória-ES, chegando pelo Porto de Limeira. Marcando também a chegada dos imigrantes açorianos da família Seródio, em Pirapetinga.
São 126 anos, quando chegou em Bom Jesus do Itabapoana em junho de 1899 o vigário Antônio Francisco de Mello, o Padre Mello, que se tornou um ícone político, urbanístico e cultural de Bom Jesus do Itabapoana até atualmente.
São 125 anos, quando Padre Mello realizou a primeira procissão e instalação do cruzeiro no Monte Calvário, em 1º de janeiro de 1900.
São 121 anos, quando Pedro Gonçalves da Silva Júnior fundou o Centro Operário em maio de 1904, a primeira instituição cultural e de desenvolvimento humano voltada para a classe trabalhadora bom-jesuense.
São 119 anos, quando Pedro Gonçalves da Silva Júnior e Sylvio Fontoura fundaram o primeiro jornal de Bom Jesus do Itabapoana, em agosto de 1906, o periódico “Itabapoana”.
São 119 anos, quando Pedro Gonçalves da Silva Júnior fundou o primeiro cinema de Bom Jesus, o Cine Bom Jesus, em 1906.
São 119 anos, quando ocorreu a primeira grande cheia do rio Itabapoana em 1906, não atingindo moradores na época, mas destruindo a ponte de madeira erguida em 1878, com sua substituta, também de madeira, sendo inaugurada somente em 1914. A atual ponte de concreto do centro, foi inaugurada em 1927.
São 115 anos, quando foi fundado o primeiro time de futebol de Bom Jesus do Itabapoana, o Pirapetinga F. C. em 1910.
São 109 anos, quando o General Fernando Lopes da Costa liderou a fundação do Olympico F. C. em 1914
São 110 anos, quando chegaram em Bom Jesus do Itabapoana os três primeiros imigrantes libaneses, os irmãos Merhige, Karim e Salim Saad, em 1915.
São 100 anos, quando Pedro Gonçalves da Silva Júnior liderou em 1925 o movimento de criação da Sociedade São Vicente de Paulo e, respectivamente, o Hospital São Vicente de Paulo.
São 95 anos, que serão comemorados em setembro de 2025 pela fundação do jornal A Voz do Povo, fundado por Osório Carneiro em 1930, sendo um dos mais antigos jornais impressos do país ainda em atividade.
São 93 anos, quando foi fundado o Grupo Escolar Pereira Passos, em 1932 através de articulação política liderada por Pedro Gonçalves da Silva Júnior em meados da década de 1920, atualmente Escola Estadual Governador Roberto Silveira, que inicialmente funcionava no prédio onde hoje funciona o Big Hotel, e posteriormente na década de 1940 se mudou para as atuais instalações.
São 92 anos, que a pressão política de lideranças bom-jesuenses fez com que o governo de Itaperuna instalasse uma subprefeitura em Bom Jesus do Itabapoana, em 1933, nomeando Dr. José Vieira Seródio como subprefeito.
A resposta pelo fato do bom-jesuense nunca ter comemorado sua emancipação política e administrativa, se deu pelo bom-jesuense nunca ter aceitado e reconhecido a condição de distrito de Itaperuna, pois 10º distrito de Bom Jesus do Itabapoana era mais desenvolvido que a sede do município de Itaperuna, a emancipação decretada por Amaral Peixoto em 14 de dezembro de 1938, foi apenas uma reparação histórica com o povo de Bom Jesus do Itabapoana, e não um processo de um distrito que se desenvolveu e postulou sua autonomia, como ocorre em praticamente todos os municípios da região.
A Festa de Agosto é a celebração da identidade cultural de Bom Jesus do Itabapoana, sob a forte influência açoriana desde a fundação da Paróquia do Senhor Bom Jesus, com seis, dos doze fazendeiros cotistas sendo descendentes do Arquipélago dos Açores em Portugal, nas famílias Borges, Teixeira de Siqueira e Silveira, nos quais os filhos desses patriarcas se casaram com integrantes das demais famílias, tornando praticamente todas as famílias que, junto com escravizados, indígenas e seus descendentes, construíram Bom Jesus com traços da açorianidade, como os próprios prefeito Paulo Sérgio, descendente da família Borges, e o vereador Pedro Renato, descendente da família Teixeira, dois aculturados que renegam suas próprias origens.


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