A influência política da família Pinto de Figueiredo, no desenvolvimento de Bom Jesus na década de 1860

A presente abordagem se dá sobre a primeira família Figueiredo a chegar aqui na década de 1820, e não da segunda família, descendentes do português Guilherme Figueiredo, que chegaram aqui no início do século XX, primeiro em Airituba-ES e logo a seguir em Rosal. Falaremos sobre o casal Alferes Francisco da Silva Pinto e Francisca de Paula Figueiredo, oriundos de Barbacena e Ouro Preto.

A montagem com a foto de Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, e da sepultura do casal Pinto de Figueiredo, com a inscrição do falecimento de Francisca de Paula Figueiredo


Francisca de Paula Figueiredo era de influente família no meio político em Vila Rica, atualmente Ouro Preto, então capital da Província de Minas Gerais, a família Figueiredo de Ouro Preto era de indiscutível influência política, tendo entre seus membros um dos mais relevantes personagens do segundo Império, a partir de 1860, na pessoa de Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, sobrinho de Francisca de Paula de Figueiredo, a primeira matriarca de Bom Jesus do Itabapoana, o Visconde de Ouro Preto era figura tão proeminente no governo imperial, que no golpe denominado como a "Proclamação da República" em 1889, ele foi exilado junto Dom Pedro Segundo, tendo escrito um livro no exílio e que foi lançado há algum tempo pela biblioteca do Senado Federal, intitulado como "Advento da Ditadura Militar".


Afonso Celso de Assis Figueiredo foi deputado estadual na província de Minas Gerais, deputado federal, ministro da Marinha, presidente do Conselho de Ministros, ou primeiro ministro, e ministro da Fazenda no reinado de D. Pedro II, e ele atuou pelo desenvolvimento de Bom Jesus do Itabapoana através de seus laços familiares com a família Pinto Figueiredo, no caso em especial na figura do Comendador Carlos Pinto de Figueiredo, filho mais velho do Alferes Francisco da Silva Pinto, e primo de primeiro grau do Visconde de Ouro Preto, que apesar de jamais ter residido em Bom Jesus do Itabapoana, ele da capital da província do Rio de Janeiro se articulava e empreendia aqui.



O título de "comendador" na segunda metade do século XIX tinha variadas finalidades, e dentre elas era a autorização concedida pelo Império, e do governo da província, ao contemplado empreender em demandas públicas, como construções em infraestrutura viárias ou pluviais, e como relata Manoel Basílio Furtado, quando aqui esteve em 1873 e escreveu no livro em 1875, o Comendador Carlos Pinto de Figueiredo, filho mais velho do Alferes Francisco da Silva Pinto, era quem liderava o projeto de implantação da navegação comercial no rio Itabapoana, com a construção do Porto Pluvial de Limeira do Itabapoana, concluído em 1860 e com as operações iniciadas em 1864. Basílio Furtado ainda se reportou ao Comendador Carlos Pinto de Figueiredo como o "benfeitor dessas matas".

Um documento histórico atesta a articulação entre o Comendador Carlos Pinto de Figueiredo com seu primo, Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, que ainda deputado federal do segundo Império do Brasil, ele defendia em discurso a implantação do sistema de navegação pluvial no rio Itabapoana, justificando a estratégia localidade para o escoamento de madeiras e café para a capital da província, no trajeto entre Limeira do Itabapoana e São João da Barra, em 1864 quando concluídas as obras do porto.


Apesar do Patrimônio do Senhor Bom Jesus dos Matozinhos ter seu povoamento e fundação iniciados entre 1847 e 1850, foi somente a partir de 1859 que nossa sociedade começou a se organizar dentro do campo institucional, na constituição do Curato do Senhor Bom Jesus, ocasião em que se instalou aqui o juizado de paz e a subdelegacia de polícia, bem como se iniciaram entre 1862 e 1864 os investimentos estruturais como a abertura da estrada que ligava Barra do Pirapetinga e Limeira do Itabapoana, e o mercado logístico se deu no momento do início das operações do Porto de Limeira, escoando a produção de café não só do Vale do Itabapoana, como em considerável parte da região do Alto Itabapoana, ou a região do Caparaó capixaba.

Foi em 1862 que Bom Jesus do Itabapoana alçou a condição de freguesia, e no mesmo ato governamental foi criada a Paróquia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana, coincidentemente foi a partir de 1860 que tanto o Visconde de Ouro Preto como o Comendador Carlos Pinto de Figueiredo tiveram o início de suas trajetórias políticas com grande relevância e influência nos poderes das capitais, da província e do império. Um atuava inicialmente nos bastidores legislativos na província de Minas Gerais e depois da capital do Império, no caso o Visconde de Ouro Preto, e o outro atuava na capital da província do Rio de Janeiro, no caso o Comendador Carlos Pinto de Figueiredo.


É interessante constatar que a política está entranhada na história de Bom Jesus do Itabapoana desde os primórdios de sua fundação, aliás, além dos personagens aqui mencionados, ainda teremos outra abordagem sobre as origens da ocupação do Vale do Itabapoana, destacando outros personagens que tiveram notória relevância política no âmbito nacional antes de chegarem aqui como meros desbravadores. 

Nas imagens acima, a sepultura do casal Pinto de Figueiredo, localizada em Calheiros, 2º distrito de Bom Jesus do Itabapoana

Um aspecto interessante também a ser observado, é que a partir de 1880 a família Pinto de Figueiredo não projetou mais lideranças políticas, bem como também não tivemos no início do século XX descendentes do casal Francisco da Silva Pinto e Francisca de Paula Figueiredo se projetando na política local. 

É possível que tenha havido alguma cisão familiar no período em que os republicanos intensificaram suas movimentações a partir de 1888, tanto que temos relatos de um conflito ocorrido em Bom Jesus do Itabapoana neste período, ocasião em que era fundado o Centro Republicano liderado por figuras como o Doutor Leônidas Peixoto de Abreu Lima, e entre os republicanos que foram agredidos pela guarda nacional, foi justamente Francisco de Assis Pinto de Figueiredo, filho do Alferes Francisco da Silva Pinto, e irmão do Comendador Carlos Pinto de Figueiredo, além de primo do Visconde de Ouro Preto que foi preso e exilado em 15 de novembro de 1889 por ser monarquista.

O Alferes Francisco da Silva Pinto faleceu em 1882 e Francisca de Paula Figueiredo em 1874, ambos estão sepultados no cemitério de Calheiros, 2º distrito de Bom Jesus do Itabapoana.

Abaixo temos um histórico da trajetória política do Visconde de Ouro Preto, com informações extraídas da Wikipedia.





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